quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tão longe, tão perto


Estudar via internet é uma ótima alternativa para quem mora afastado de uma universidade ou não pode seguir o horário de cursos tradicionais


O último dia 21 de setembro foi especial para Jaqueline Ferraz de Andrade, 42 anos, de Teixeira de Freitas, a 900 km de Salvador. Nessa data, depois de um ano e meio de estudo, ela apresentou sua dissertação de mestrado para uma banca composta de professores de São Paulo, Londrina, no interior do Paraná, e Fortaleza, além do orientador, que é de Brasília. Só que cada um deles estava confortavelmente instalado em sua cidade. Em pouco mais de três horas, a aluna da primeira turma de mestrado profissional a distância reconhecido no Brasil recebeu sua aprovação.

"Morando numa cidade distante da capital, só consegui fazer o mestrado graças à Educação a distância", comemora Jaqueline, que trabalha com formação de educadores em novas tecnologias na Secretaria Estadual de Educação da Bahia. Sua dissertação - sobre a relação dos tutores no processo de aprendizado a distância - foi defendida dentro do programa Tecnologia da Informação e Comunicação na Formação em Educação a Distância (EAD), oferecido desde 2005 pela Universidade Federal do Ceará em parceria com a Universidade Norte do Paraná.

Assim como Jaqueline, há cada vez mais professores, coordenadores, formadores e gestores interessados em dar continuidade aos estudos por meio da EAD. Para quem mora longe dos grandes centros ou onde não há estrutura de ensino superior, essa é a única possibilidade de voltar à escola. Há muita gente também que busca a praticidade e a possibilidade de cursar um programa específico mesmo estando a quilômetros de distância de onde ele é oferecido.

Modelos variados
 
O Brasil tem 2,2 milhões de alunos matriculados em turmas de aprendizado a distância em diferentes níveis, e a procura por elas cresce em ritmo acelerado. De 2005 para 2006, houve o aumento de 54% no número de pessoas que optaram por dar continuidade aos estudos fora de uma sala presencial.

De acordo com a Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), há 889 cursos de EAD credenciados, sem contar os livres, que não precisam de aval do Ministério da Educação (MEC) para funcionar. Só os lato sensu regulamentados somam 246. A Secretaria de Educação a Distância (Seed) do MEC ainda estuda como se dará a aprovação da pós stricto sensu a distância. Por enquanto, a única reconhecida é a que a Jaqueline concluiu.

O ensino a distância, via computador, existe há apenas cerca de dez anos. "Iniciativas como o telecurso, exibido pela TV, por exemplo, são bem mais antigas do que isso, mas, quando se fala em EAD hoje, pensa-se em internet", pondera Vani Kenski, diretora da Abed e docente da Universidade de São Paulo (USP).

Alguns programas são inteirinhos ministrados com a ajuda do micro. Nesse caso, o aluno participa de chats e fóruns e tira dúvidas por e-mail ou programas de troca de mensagens instantâneas (MSN). A interação com o professor pode se dar ainda por meio de webcam. A EAD se baseia também em videoconferências, por meio das quais o estudante tem o conteúdo ou parte dele apresentados em um canal de TV, em fitas VHS ou em DVDs.

No modelo mais comum, algumas aulas acontecem em um polo de ensino, onde há bibliotecas e laboratórios e tutores, como são chamados os responsáveis pelo ensino. É no polo também que são feitas as avaliações. Muitas instituições montam currículos envolvendo mais de uma dessas ferramentas.

Na EAD, o aluno recebe apostilas pelo correio ou lê textos em área específica na internet. "Ele pode começar a aula já tendo feito uma análise crítica do conteúdo que será apresentado. Por isso, também o docente tem de repensar a maneira como trabalha em um ambiente virtual", explica Vani, da Abe.

Interação entre alunos


Responsabilidade e disciplina são palavras-chave para quem busca uma pós-graduação a distância. Afinal, em muitos casos, o aluno precisa estudar sozinho antes de acompanhar as discussões. "No início, me sentia como uma criança que entra na pré-escola", diz, brincando, Elisa Vilas Boas, 37 anos, professora de Filosofia e diretora do Centro Educacional Antonio de Souza Gonçalves, em Botelhos, a 451 quilômetros de Belo Horizonte. "Sabia o que iria fazer, mas não tinha idéia de como isso se daria." Aos poucos, ela foi se familiarizando com o modelo e, mesmo sem ter muita intimidade com o computador, concluiu duas pós a distância - uma em Psicopedagogia, outra em Psicomotricidade - e um curso de extensão.


Ela conta que, nas primeiras aulas pela internet, todos os alunos pareciam um pouco tímidos e a troca de idéias não era intensa. Nada muito diferente do que ocorre em uma sala comum, em que as pessoas não se conhecem. "Depois, fomos ficando mais à vontade. Tinha até uma 'sala de café', para bate-papos", recorda. Com ferramentas como essa, consegue-se resolver um dos pontos pelos quais a EAD é mais criticada: a falta de interação entre os alunos - que é tão rica nesse nível de ensino.

Mas, para Elisa, o bom mesmo dessa forma de se aperfeiçoar é a praticidade. Ela aproveitava que o conteúdo a ser cumprido ficava à disposição num ambiente virtual e organizava os estudos de acordo com a disponibilidade de horário. "Em alguns dias, era melhor para mim estudar de manhã e em outros à noite. Às vezes, dedicava os sábados a essa tarefa."

Questão de qualidade
 
Apesar do crescimento da oferta de EAD, ainda há um certo preconceito com relação a esse tipo de curso. A legislação, contudo, não faz distinção no que se refere aos certificados nas modalidades presencial e a distância. "Essa informação nem precisa constar no diploma", afirma Wilson Azevedo, professor de EAD na Aquifolium Educacional, em Parnamirim, no Rio Grande do Norte, que ministra cursos em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, entre outras.

Como é grande a oferta de pós do tipo caça-níquel, porém, é bom pesquisar antes de fazer sua matrícula. No site da Seed constam os referenciais de qualidade exigidos das instituições de EAD. É recomendável ainda ficar atento à proposta metodológica do programa e analisar a titulação do corpo docente. "Tem muito aventureiro lecionando a distância", alerta Vani. No site do CNPq é possível fazer uma pesquisa pelo nome do professor, dentro da Plataforma Lattes. Na hora da escolha, valem os mesmos cuidados que se deve ter com os cursos presenciais. Afinal, não é porque você não precisa se preocupar com a distância que vai se matricular em qualquer faculdade, certo?

Artigo publicado: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/tao-longe-tao-perto-423170.shtml